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Eu acredito na potência que manifestamos, cada um de nós. E que, por meio dela, podemos mudar nossa realidade em benefício próprio ou para instaurar algo que almejamos. Optar por isso é aceitar que existe mais de uma possibilidade, portanto. É crer que realidade não é algo dado, estático e logo não passível de reformulação. É pressupor que existe, portanto, para além de uma realidade objetiva, aquela da qual todos compartilhamos, possíveis realidades subjetivas. E, em resumo, isso implica em admitir que realidade é uma construção, mental e material.
Motivada por muitos questionamentos, um câncer no meio do caminho, e alguns insights, e embasada pelos conhecimentos com os quais fui tendo contato antes, durante e depois do mestrado, no qual meu objeto de estudo foi corpo-mente-ambiente, eu passei a me ater à proposição de que podemos e convém nos engajarmos na elaboração de realidades que nos favoreçam, e a buscar embasá-la mais e melhor. 
A vontade de prosseguir escrevendo veio em decorrência da necessidade que senti de organizar os conteúdos principais que a fundamentem. A essa construção da realidade, ou criação, ou elaboração, ou como lhes parecer mais adequado, dei o nome de Design de Realidades. E os esforços aqui vão no sentido de proporcionar o entendimento do que quer dizer essa expressão, partindo de reflexões que a dão corpo.
Sucintamente podemos dizer que o Design de Realidades é um pensamento sistêmico que se destina a proporcionar o desenvolvimento da entidade corpo-mente-ambiente, ou seja, propor Design de Realidades é obrigatoriamente conceber essa entidade, e tudo se volta à beneficiar o individuo nessa totalidade, na medida em que é indissociável.
Desta forma, acredito realmente que algo que afeta uma das instâncias que compõem essa unidade (que é, em si, nossa própria constituição) afetará inevitavelmente a todas as outras, pois é utopia pensar em nós como seres fragmentados. Buscamos no dia-a-dia nos convencermos que algo que nos abala num aspecto não desestabiliza os demais, pois muito mais simples e prático seria se assim nos ocorresse, mas a verdade é que, mesmo sem nos darmos conta, cada interferência afeta todos os demais âmbitos que nos constituem.
Essa premissa viabiliza a suposição de que mudanças e ajustes feitos em diversos aspectos de nossa vida potencializam a melhora global, e consequentemente o acesso a novos e mais interessantes estados de satisfação. Intervenções no “corpo físico”, no “corpo mental” ou no meio que estamos imersos causam mudanças que repercutem nos outros âmbitos.
Meu intuito ao escrever não é dar uma receita básica de como “fazer” Design de Realidades, por que fundamentalmente isso não é um método ou área de atuação. É um conceito, é um ponto de partida para o desencadeamento de percepções e vivências integrativas e que visem à instauração de outras possíveis formas de ser e estar no mundo, de se relacionar, com ele e com os outros. Se conhecer, se apropriar de si, se sentir pertencendo e integrado. 
Essas são só reflexões acerca de conteúdos diversos e capazes de “dar corpo” a uma nova ideia de corpo, que é múltiplo, é corpo-mente-ambiente. Aquilo que torna essa perspectiva possível e os desdobramentos da mesma, tendo sido admitida. Por que meu processo está em trânsito, incompleto, eu ainda faço o design da minha realidade diariamente. E, como isso nunca há de cessar enquanto eu estiver viva, sempre haverá o que propor.

corpo-mente-ambiente
Para concebermos e então habitarmos outras realidades possíveis temos que estar de acordo com outras propostas de corpo, mente e ambiente, que passam a ser aspectos de uma unidade que é complexa, não passível de ser fragmentada e não estática.
Esse corpo-mente que é uno, em que um não se sobrepõe ao outro, se porta no mundo de uma maneira bem mais integrada, e de modo a intensificar essa conexão. Explorar esse corpo-mente, colocá-lo em ação, problematizar sua existência e o como reage às questões que recaem sobre ele, quanto mais o experienciamos em contato com o meio, mais rica é a própria experiência de estarmos vivos. 
Esquematizar formas de estimular esse corpo-mente passa por se ater e muitas vezes propor mudanças ao meio onde se vive, e a casa é o ambiente primordial para onde esses esforços podem se voltar pois é o local em que passamos grande parte do tempo e onde se situam nossos pertences, que nos representam, falam sobre quem somos.
Quando esse contexto conversa conosco, quando a comunicação é estabelecida, isso nos estimula cognitivamente por que isso desencadeia um outro nível de relacionamento entre o sujeito e o objeto que borra essa dicotomia, a ponto de não sabermos mais “quem fala do que”, ou seja, existe uma reciprocidade a nível comunicacional. Nós também representamos aquela realidade material vinculada a nós.
Os fenômenos provenientes da comunicação corpo-mente + ambiente é o que nos possibilita constatar o quanto que a cognição se dá situada, contextualizada, e extravasando assim os limites do cérebro, e é justamente isso que intensifica nossa experiência de mundo, a elevando para graus cada vez mais altos se estimulada.  Estímulos no meio, estímulos no corpo, a ênfase não importa, e tanto melhor se ocorrer em ambas as situações. O como estamos no mundo, ou como o autor Mark Johnson propõe, o “have a world”, o “ter um mundo”, nossa experiência própria e autentica de estar no mundo, como agentes ativos da construção desse mundo, isso determina muita coisa. Não só recriarmos nosso meio, ambiente, deixando-o melhor para nele estarmos e nos sentirmos contemplados, mas nos recriarmos, corpo-mente, para podermos atuar melhor no contexto em que nos inserimos. A probabilidade de obtermos satisfação proveniente de uma sensação de pertencimento e contentamento aumenta, evidentemente.