"E agora, tenho câncer"


No último fim de semana participei de um congresso cujo nome era "E agora, tenho câncer". Desde que soube do evento achei interessante a proposta, achei que teria relação com a reflexão que venho construindo, e que consta no meu livro. Pensar o como reagir e agir de forma favorável diante de uma constatação desse tipo, tão impactante, por exemplo quando recebemos o diagnóstico de uma doença complexa.

Muito foi dito sobre o que tem sido pesquisado, testado e implementado (e evoluções já obtidas), e de forma muito competente por profissionais renomados, o que nos deu, em especial aos pacientes presentes, uma esperança extra. Mas o que mais me comoveu foi ouvir que o questionamento hoje mudou de "se vou ter câncer" para "quando vou ter câncer".

Parece exagero mas o que essa colocação representa é que essa doença, multifatorial, é cada vez mais comum na medida em que vivemos mais, ou seja, morremos cada vez mais tarde, devido ao avanço da tecnologia. Com o envelhecimento a probabilidade de ocorrerem mutações genéticas nocivas aumenta, e esse é um dos principais fatores de desencadeamento de processos cancerígenos.
Vivemos mais e com mais conforto, contudo pagamos um preço. Como fala um dos meus autores favoritos, Lipovetsky, vivemos melhor mas não vivemos bem. Penso que não somos nós, seres humanos individuais, que estamos doentes, exatamente. O mundo está doente, e isso se manifesta em cada um de nós de formas distintas. Cânceres, processos depressivos, doenças cardíacas, etc. E a responsabilidade por esse desequilíbrio da natureza e disso se manifestar em nós é nossa. Nossa ambição desenfreada tem nos matado num ritmo alucinante.
Os tratamentos avançam e isso é maravilhoso, de suma importância. Mas a gente também tem que se curar da gente. E isso também é urgente.
Obrigada aos organizadores, instituições envolvidas, palestrantes, pessoas presentes, amigas e amigos que reencontrei ♡