Finitude.


Quando a gente teve câncer a gente tem medo de recidiva, que é o câncer voltar. A gente vai fazer os exames periódicos com medo, e fica com medo depois, na espera dos resultados. Quando dá tudo ok, a gente fica contente, mas a gente não relaxa, parece que nunca. Assim é comigo, assim é com quem converso.
Esse medo eminente da morte, e dela ser sofrida, por que em resumo é isso, passa a ser questão concreta para quem teve essa doença, preocupação permanente. Pro bem e pro mal. Assim é. Mas por que a gente precisa de doença pra se conscientizar de verdade que a vida é frágil e pode acabar a qualquer momento? Pois, sim, ela pode. A minha, a sua, paciente oncológico ou não. Tanta projeção em futuro, e o presente alienado. Iludidos.
Isso de certa forma consola e ameniza a paranóia que insiste em atormentar muitos de nós, e se a gente desenvolve uma visão positiva a gente pode até passar a acreditar que isso traz a gente pra viver mais intensamente o momento presente, que de fato é só o que temos. Me esforço cotidianamente para acreditar e agir baseada nisso. O medo tá lá, mas já não predomina.
Esteja onde e com aqueles que constroem com você essa perspectiva. Eu afirmo: não é só você que pode chegar à finitude a qualquer momento. Somos todos. Isso não é condição de doente, é condição humana.

Não esquece que a vida é linda, tá?