Tudo de novo, e sempre.


Quando você passa por uma experiência que repentinamente tira de você muitas coisas, materiais e imateriais, não tem como não se reformular, se recombinar, se reinventar. A gente muda todo dia, mas tem situações que são determinantes, é antes e depois.

Mais ou menos esse horário, há exatos 4 anos atrás, despertava da anestesia geral. Mastectomia total e reconstrução da mama para tirar um tumor. E na mesma cirurgia foram tiradas de mim muitas ilusões e possivelmente alguns planos, inevitavelmente. Foi o pior momento pelo qual já passei, mas graças a isso, e à tudo que veio (e quem veio) depois, fazem quatro anos. Quatro anos. É bastante, né? Mas ao mesmo tempo parece que foi ontem. É que ainda dói.

Mas sabe, doer vai doer sempre. Viver é dolorido mesmo, ce também não acha? Porém é aquela máxima, a dor é inerente à vida, mas o sofrimento é opcional. Não que seja só decretar "não sofro mais" e pronto, acabou chorare, não é não. Mas dá pra suavizar. Tem que dar. Mas dá trabalho, ah se dá, é esforço incessante e diário pra resignificar. Então se você puder contar com pessoas nas quais confie pra distribuir esse peso, faz isso, que fica mais leve, mais possível.

Se reformular, se recombinar, se reinventar, resignificar, renascer. Tudo de novo, e sempre. E já que é inevitável, que a gente tente se melhorar nesse processo, ou mesmo se conhecer melhor. Se reconhecer.

Que a vida é impermanência, a gente já falou sobre isso. Muita coisa foi embora mas chegou maturidade, clareza, coerência, consciência. Tento todo dia achar algum ponto positivo nisso tudo, sou uma otimista incurável. Se tua dor é similar, te sugiro fazer o mesmo, que todos vamos morrer um dia mas morre todo dia quem não vê sentido algum. Lembrei do que minha vó declamava:

"Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu,
Foi espectro de homem, e não homem,
Só passou pela vida, não viveu."
Não sei bem quem escreveu, mas parabéns. É tudo sobre existir, e resistir.


Foto de 2016, o pior ano da minha vida, mas o mais decisivo. E não é que eu gostei de ter cabelo curtinho?!