Revitalizar.


Ontem comentei com uma amiga que percebo certa similaridade entre como tenho me sentido hoje com quando estava em tratamento, por que fiquei meses recolhida, me cuidando, sem expectativa de quando poderia voltar a “viver” minha vida (como se a gente pudesse não estar vivendo a vida, se vivos). Ou seja, retomar meus projetos, planos, sonhos, circular, trocar, me sentir ativa. Como agora, que não sabemos quando isso poderá ocorrer, e é como se estivessem suspensos os projetos, planos, sonhos. Não que de fato estejam, por que estamos fazendo conexões e encaminhando os processos de forma online, mas não é a mesma coisa, concorda? Não sinto a mesma energia, afinal o corpo em sua totalidade, quando não está plenamente envolvido, não está em sua plenitude de presença e potência.

E nosso corpo não está circulando como antes. Por lugares, entre pessoas. Isso talvez seja o que pode estar nos deixando mais tristes, deprimidos, apáticos, desmotivados. Hoje conversando com um amigo tão querido falamos sobre como talvez não seja exatamente a solidão que nos aflige, a ausência de alguém ao nosso lado tão somente, por que muitos de nós já viviam uma rotina de certa forma solitária (como eu e ele, que trabalhamos remotamente e moramos sozinhos), mas isso de não poder trocar, com outros e com o meio, na presença plena. Colocar nosso corpo em outros ambientes, com outras vibrações, configurações e as experiências daí advindas. Isso está nos fazendo de verdade falta, prejudicando nossa vitalidade.
Também falamos sobre o tal do “voltar à normalidade” e como isso é ilusório, por que não se volta nunca a nada, especialmente após uma mudança de paradigmas tão grande como a que essa vivência nos têm proporcionado. A gente vai ter que criar o melhor “novo” que pudermos por que o velho, esse já era. Falamos de muitas coisas, e a gente concordou que não dá para não estar nas redes sociais virtuais (e que bom que elas existem), mas é imprescindível ser com consciência, para não nos tornarmos escravos delas, que lucram com nossas ilusões. E que bom mesmo é quando o corpo tá junto, que a gente se abraça apertado e a gente adora.
Mas hoje só deu para ser por chamada de vídeo, e tá tudo bem. Estamos exercitando toda a resiliência atualmente, todos nós, pois está sendo desafiador para cada um à sua maneira. Aproveito para te dar os parabéns por que certamente você está fazendo seu melhor, independentemente de estar ou não acompanhando todas as lives e arrasando na produtividade. Tento me convencer disso para seguir confiante, de que estou fazendo o melhor que posso. Quando consigo, sinto orgulho de como tenho me saído. Pensei em algo enquanto tomava café dia desses, e comentei com minha mãe, que lavava a louça: “mãe, eu tive câncer aos 31 anos, e agora, aos 36, vivo uma pandemia”. Dois fenômenos pelos quais ninguém espera passar, relativamente incomuns. E passei por ambos. Refletindo sobre essa fase da minha vida, a dos trinta anos, achei ela bem agitada. Memorável! Lá na frente pretendo olhar para trás e ficar contente.