Nada importa mais.


Às vezes uma voz interna diz que não estou sendo produtiva o suficiente. Na verdade ela sempre fala comigo, ela insiste. Acabo concordando muitas das vezes, pois ainda tenho tanto a aprender sobre mim e sobre entrega, afinal as coisas sempre só são como podem ser (e mesmo sabendo disso ainda sofro, me esqueço).
Sinto culpa e ansiedade até quanto a aspectos que não precisava, tipo escrever aqui. Eu criei esse perfil para registrar alguns pensamentos e reflexões sobre vida, morte, doença, saúde, cura, caos, eu, você, mundo, mistério e impermanência. Tudo isso sem cobrança, só delírios espontâneos, conclusões parciais, ideias livres, leves, lúdicas. Mas vem a voz, regida pela lógica capitalista de produção que a tudo contamina, dizer que tinha que fazer mais, postar mais, postar sempre, e também fazer podcast, gravar vídeo, e outro livro, e projetos, e caridade, e comprometimento, e salvar o planeta, sei lá mais o que. O sistema, esse mesmo que está ruindo com a Terra, nos doutrina para servirmos a ele e hoje a grande ferramenta de manipulação é o manejo de nossa subjetividade. Sinto lamentar mas estamos, todos, submetidos.
Não tenho feito cursos da Harvard, visto 10 lives por dia, lido 1000 livros por mês, escrito projetos incríveis, ando ausente aqui e em muitas instâncias, mas é que só estou mesmo tentando sobreviver, física e psiquicamente. Sobre isso, eu tento driblar a angústia quando ela vem ao me lembrar por exemplo do processo de escrita e publicação do Não se acostume, meu livro. Eu escrevia quando podia, quando não estava impossibilitada me recuperando de algum procedimento ou tão triste e desiludida que nem conseguia olhar para aquela dor. Parei por uns tempos, pensei em desistir, mas o chamado era mais forte, e foi quando deu que ele se concretizou. O tempo da vida não é nossa urgência equivocada.
Enfim, me perdoando caso eu não venha a ser a escritora fantástica que meu ego gostaria que eu fosse, e espero que me perdoem também. Ou melhor, espero que se perdoem também.

Nada importa mais do que sermos honestos com a gente mesmo, respeitando nossa inconstância. Ela não é algo a ajustar, ela é justamente aquilo que nos lembra de que não somos máquinas.

 

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